Terceirização Quando a situação começa a mudar

  Sexta-feira às 14:52 em 25 de Maio de 2012     0

 

A terceirização de mão de obra cresceu assustadoramente em diversos setores na última década. O governo ainda estuda formas para regulamentá-la e as centrais sindicais pressionam para que cada setor seja avaliado e nenhuma categoria seja prejudicada.

Em edifícios e condomínios a situação é grave. Locais considerados seguros para se viver e trabalhar se tornaram alvos de arrastões, com assaltos em prédios de todos os bairros e níveis sociais.

O presidente do Sindifícios, Paulo Ferrari, tem viajado constantemente a Brasília para participar das reuniões com parlamentares sobre o assunto (foto ao lado): “A tranquilidade que possuímos morando em condomínio acaba em locais que terceirizam a mão de obra, e sabemos que a cada dez edifícios assaltados, oito são terceirizados”.

 A Falsa Economia

Com o apelo de serem mais vantajosas economicamente para os condôminos, as empresas de terceirização ganharam espaço. Muitas divulgam até mesmo a isenção do pagamento de férias e 13º salário como economia, o que é ilegal para o trabalhador de qualquer categoria. Pensando nessa falsa economia, muitos síndicos não avaliam a qualidade do serviço prestado ou para onde vai o dinheiro que pagam mensalmente, só se importam em contratar a empresa que cobra menos. O resultado é ver muitos prédios na Justiça com terríveis dívidas de encargos trabalhistas criadas por empresas de terceirização que não repassavam o dinheiro arrecadado aos funcionários.

O funcionário

O trabalhador que aceita prestar serviço por uma empresa terceirizada normalmente o faz por falta de opção. Foi o que aconteceu com João, porteiro de uma empresa terceirizada que pede para não ter seu verdadeiro nome revelado, mas que procurou o Sindifícios com um relato sobre o dia a dia numa terceirizada.

O porteiro disse que estava de passagem por uma rua no bairro do Tatuapé quando viu um anúncio para trabalhar como porteiro; ele foi se informar e, para sua surpresa, no dia seguinte já estava empregado, numa portaria, com terno e gravata, sem saber coisa alguma a respeito da função. A realidade desses trabalhadores é dura, com carga horária de 12 horas, escala 5x1, salários baixos e falta de treinamento. Dessa forma fica impossível possuir um prédio seguro.

A volta

Todo trabalhador de empresa terceirizada almeja conseguir ser contratado pelo prédio. E quanto aos prédios, muitos que experimentam as terceirizadas, arrependem-se e voltam atrás. Na zona norte da cidade, no bairro de Santana, com prédios de todos os lados, duas ruas famosas são exemplo: a rua Francisca Júlia e a Pedro Doll. Com o começo da terceirização, a maioria dos prédios em ambas terceirizou. Em pouco tempo, a violência aumentou, o arrependimento chegou e os funcionários voltaram a ser contratados pelo método tradicional. Hoje, a rua Francisca Júlia tem um prédio terceirizado, três com zelador próprio e funcionários terceirizados, e 15 edificios com funcionários contratados; na Pedro Doll, os números são semelhantes: dois terceirizados, três com zelador, e 12 com contratados.

O testemunho

Na Vila Maria, também zona norte, o zelador Genival Pereira da Silva, que trabalha no mesmo prédio comercial há 16 anos, desde quando foi inaugurado, sabe bem o que é terceirizar. O prédio, que possuía funcionários próprios, terceirizou em busca da falsa economia. Durante dez anos, passaram por lá seis empresas de terceirização que, segundo Genival, ofereciam de tudo para seduzir o síndico. “Para o síndico preguiçoso que ouve que, com a terceirizada não vai ter que fazer mais nada no prédio e ainda vai economizar, é a solução”, afirma Genival. “Quando o síndico pedia a minha opinião, eu falava que era contra porque eles não prestavam bons serviços; mas o síndico alegava problemas financeiros, pedia uns três orçamentos e sempre fechava com a empresa mais barata, sem ver a qualidade”, completa. Genival também conta que durante esses dez anos nenhum condômino queria ser síndico: “Eles não participam nem das assembléias; quando elas ocorrem, estão presentes: o síndico, alguém da administradora e eu; foram mais de seis síndicos nesses dez anos de terceirização”. A volta a contratação normal ocorreu após os problemas aumentarem: além de um assalto sofrido, as dívidas não pararam de crescer: “
A
empresa que ficou mais tempo, uns três anos, porque o síndico achava que era boa, foi a que mais roubou; hoje o prédio tem uma grande dívida de encargos trabalhistas por conta dela”. Na categoria há 33 anos, Genival confessa ter sido difícil a mudança, que ocorreu há quase três anos. “Felizmente essa síndica me ouviu e confia muito em meu trabalho; atualmente tenho um bom quadro de funcionários e total autonomia para, quando receber visita de uma empresa terceirizada, dizer em alto e bom tom NÃO”.

 


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